domingo, 13 de setembro de 2009

Cap VII

Enquanto os dois companheiros, o Barão de Gorgonzola e Conde Naced, bebericam em suas taças de vinho e se divertem ao lembrarem das histórias dos apelidos – digamos, sensuais -, uma vozinha melosa, um tanto molenga, nem muito fina nem muito grossa, lhes chama a atenção:
- Meus queridos; Barão Sugismund de Gorgonzola e o maravilhosérrimo Conde Naced Carcot de Me Pay Gay d’Quattro... Ah! Me desculpe... aliás, das terras de Tea Pay Gay d’Quattro... És um gozo prazeroso tê-los em meu modesto castelo!
Qual não foi a surpresa, ao olharem à suas frentes e verem aquela figura: alto, magro, peruca loura encaracolada, paletozinho rosa, um babado enorme no colarinho e nos punhos, calça também rosa, até a altura dos joelhos, meias brancas, sapatos rosa-choque com lacinho, sem falar na montoeira de brilhos e lantejoulas – parecia o Clóvis Bornai numa fantasia de destaque de escola de samba. Só que não era o Clóvis Bornai, nem tampouco uma Drag Queen renascentista, mas sim, sua alteza, o Príncipe Herdeiro, Bichop de Paul Molly.
Na realidade, nenhum dos dois estava esperando aquela aparição repentina, mas já que surgira, o mais correto era serem o mais polidos possível.
- Majestade, o prazer é todo meu de ter sido convidado a este festejo – digno de vossa alteza, diga-se de passagem! – disse o Barão Sugismund, fazendo uma reverência respeitosa diante do príncipe Bichop.
- E eu faço das palavras do Barão as minhas, majestade. – Reforçou Naced, também reverenciando o herdeiro da coroa.
Príncipe Bicho, como se sabia, adorava ser bajulado, e já com a face um tanto corada, diz aos convidados, logicamente com uma modesta bastante falsificada:
- Que é isso cavalheiros? Isso é apenas uma humilde festinha de boas vindas; nada que alguns milhõezinhos de dobrões não possa pagar – e continuou a falar o príncipe –, mas, mudando de assunto, há muito não o vejo, Naced. Desde o tempo do colegial, nunca mais o vi aqui no palácio; o que tens feito na vida? – Perguntava o príncipe, todo eufórico, e Naced responde pausadamente:
- Calma alteza, vamos devagar... Bom, primeiro, após concluir o colegial, fiquei a tomar conta das terras da família e dos negócios de chá, pois meu pai entrava-se muito debilitado, e logo veio a falecer. Bem, quanto a nunca ter vindo ao palácio, digamos que nunca houve um convite antes desse evento que hoje ocorre. Enfim, minha vida se resume aos negócios da família – vendas e exportações de vários tipos de chás –, e nos tempos livres, pegar a mulherada, sacumé? Ninguém é de ferro, certo?
Após a narrativa de curta metragem sobre a vida de nosso protagonista, Bicho sente-se no dever de retratar-se e, ao mesmo tempo, aborrecer-se com nosso herói:
- Meu querido Conde, espero que aceite, ainda que um pouco tarde, meus pesares pela passagem de vosso pai, e aproveitando o ensejo, peço-lhe mil desculpas por outrora não tê-lo convidado à ver ao castelo. Mas devo dizer-te também... mas que merda, menino, não tens coisa melhor a fazer em suas folgas além de correr atrás de ... de... AARGH... Mulheres?!
Após ver os trejeitos esbaforidos e fricotices do Herdeiro-Real, Gorgonzola não aguenta e solta uma gostosa risada acompanhada de uma extravagante peido, que prontamente, o amigo Naced tenta, sem sucesso, disfarçar com uma resposta totalmente idiota:
- Pois é, Majestade... tem pessoas que no seu lazer preferem jogar futebol, sinuca, ficarem em botecos enchendo a cara, até mesmo ficarem dormindo o dia inteiro, já eu prefiro me divertir com as donzelas... Enfim, gosto não se discute, não é mesmo? – E termina com um sorriso mais amarelo que cueca com corrimento.
Príncipe Bichop, percebendo a dissimulação da resposta de Naced, e não apreciando a atitude do barão – nem da risada, muito menos do peido –, resolve cutucar os dois à moda Gay Power. Ou seja; o príncipe desceu das tamancas, rodou a baiana e deu um tapa na bunda da pomba-gira e já foi falando:
- O que queres dizer, queridíssimo Naced, é que gosto e igual cú; cada um tem o seu, e olha que de cú eu entendo, e, pelo barulho da carroça, essa ruela já está frouxa e já faz muito tempo, não é, meu caro Barão?
Gorgonzola sem jeito, com a maior cara de tacho por ter levado um esporro do Príncipe, tenta desculpar-se.
- Perdoe-me, Alteza, perdoe-me; eu não sei o que aconteceu, fora muito repentino. Não deu pra segurar o riso e nem tampouco o sopro que saiu por baixo.
O príncipe, que antes sapateava de raiva, agora mais calminha, aceita o pedido de desculpas do Barão, mas não resiste, e faz uma piada do acontecimento:
- Sopro?! Aquilo não fora um sopro, caro Barão; aquilo fora um vendaval, com, direito a trovões e uma rajada de chuva tropical. Se me permites dizer... vá ao toalete e verifique se não houve maiores avarias.
Agora quem está rindo é o príncipe Bichop, por ter por ter desopilado o fígado orgulhoso de si mesmo, por ter feito uma piada tão perspicaz (afinal, naquela época os nobres eram tão sem graça e tão entediosos que mantinham em seus castelos um funcionário de nome Bobo da Corte, que ficava fazendo palhaçadas e contando anedotas, geralmente imbecis e sem graça nenhuma, e toda a Corte caía na gargalhada, muitas vezes sem entender as piadas; eram mesmo patéticos).

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